Por causa de uma grave doença, o lutador francês Maurice Tillet ganhou após a adolescência nariz, orelhas, mãos e pés enormes, além do título de “o homem mais feio do mundo”. Na Inglaterra era descrito como “uma feroz monstruosidade, não um ser humano, mas uma pedra de brutalidade.” Quem o conhecia, porém, dizia que ele era o dono de um enorme coração, inteligência acima da média e generosidade incomum. Ele adorava crianças, e as crianças o adoravam. Era conhecido no mundo da luta como “O Anjo Francês”.
Por suas características físicas e biográficas, o lutador é apontado como o grande inspirador de Shrek, o ogro verde e gentil que ganhou os cinemas em 2001. A história não oficial da gênese do personagem conta que os produtores da Dreamworks, empresa de animação que deu vida ao ogro, encontraram um busto de Tillet em um museu e a partir dele construíram o monstro simpático.
Tillet sofria de acromegalia, uma doença que faz o corpo inchar por uma produção excessiva de hormônios do crescimento. Pacientes de acromegalia costumam ter várias complicações de saúde e morrer precocemente – Tillet viveu até os 51 anos.
Embora nos dias atuais ele seja uma figura esquecida até pelos admiradores das artes marciais, sua vida está amplamente documentada pelos jornais da metade do século passado, já que ele era uma espécie de celebridade nos Estados Unidos e na Europa. Boa parte desse material biográfico foi reunida pelo pesquisador Tom Latour, que orgulhosamente se considera o maior conhecedor da vida de Maurice Tillet.
Em contato com o UOL Esporte, Latour afirma que museus, canais de televisão e curiosos em geral recorrem a ele quando querem saber mais sobre Tillet, a quem ele chama de “meu garoto”. De fato, as pesquisas de Latour, cujos resultados ele publica na internet, sugerem um fascínio quase obsessivo pela biografia do lutador.
Ele chegou a, por exemplo, telefonar a uma pequena igreja no interior da Rússia, onde Tillet nasceu e viveu na primeira infância no começo do século 20, para buscar informações sobre os pais do lutador. “Eu tenho um profundo respeito pelo homem bom e decente que Maurice foi e por isso eu me sinto compelido a entendê-lo cada vez mais”, diz.
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Ele também afirma que suas pesquisas indicam com “95% de certeza” que a criação de Shrek teve como uma grande inspiração a vida do “seu garoto”. Além da óbvia semelhança física, Latour aponta características psicológicas que aproximariam Tillet do ogro verde. “Veja Shrek rugindo para o Burro, e o Burro parado, apenas sorrindo”, escreveu ele em seu blog dedicado à vida do lutador. “Quando Maurice subia no ringue ele também rugia, e o público adorava.”
O sorriso do lutador é outra coisa que o assemelha ao ogro. “Maurice era conhecido na vida real por ser sensível, gentil, orgulhoso e nobre. Penso em Maurice atuando como um monstro, mas no final de cada apresentação, ele abria aquele sorriso bobalhão que parece um espelho do sorriso do Shrek e aí ninguém mais acreditava em sua monstruosidade.”
Um modelo para as pessoas
“Maurice permanece como um modelo sobre como superar os desafios da vida”, escreveu o pesquisador. “Ele teve de lidar com sérias e dolorosas condições físicas e psicológicas e conseguiu viver sua vida e transformá-la em alguma coisa especial, não evitando seus problemas, mas abraçando e lidando com eles. Foi isso que a Dreamworks encontrou nele e, sem dúvida, usou muito disso no filme.”
O curioso é que o Shrek que conhecemos, cuja figura lembra muito a do lutador francês, é bem diferente dos primeiros rascunhos do personagem. E isso nos leva à história de seu nascimento.